segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ocidente vê com desconfiança o acordo nuclear Irã-Brasil-Turquia

Iranianos aceitaram trocar urânio em território turco após mediação de Lula
AFP
EFE
Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, fotografa Lula após assinar um acordo nuclear, que ainda é visto com desconfiança por potências ocidentais e Israel


O Ocidente manteve a pressão sobre Teerã nesta segunda-feira, afirmando que o problema do programa nuclear iraniano ainda não foi resolvido, apesar do anúncio da assinatura de um acordo de enriquecimento de urânio entre o Irã, o Brasil e a Turquia.

Para o presidente permanente da União Europeia (UE), Herman Van Rompuy, o Irã deve, antes de mais nada, se reportar à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para discutir propostas referentes a seu programa nuclear.

- O Irã deve responder à AIEA (...). Ouvimos, mas não vimos as novas propostas depois de todas as complicações e confusões que Irã semeou nos últimos meses.

Van Rompuy explicou que o principal problema não é carregar de combustível o reator experimental de Teerã e sim o programa nuclear em si mesmo.

- A AIEA apresentou propostas razoáveis sobre o combustível para o reator, mas o Irã não respondeu positivamente.
Van Rompuy reiterou que a posição europeia não mudou.

- Estamos seriamente preocupados com o programa nuclear do Irã, já que o país se negou a realizar discussões sérias sobre as preocupações razoáveis de seu programa nuclear (...). O Irã deve tranquilizar a comunidade internacional sobre as intenções que estão por trás de seu programa nuclear, e a UE esteve disposta a iniciar conversações sobre este tema durante sete meses, mas o Irã não se comprometeu com isso.

Reino Unido ainda vê Irã com preocupação

Para o governo britânico, o Irã continua sendo um sério motivo de preocupação. Para Alistair Burt, subsecretário de Estado britânico para as Relações Exteriores, os iranianos não estão dispostos a cooperar.

- As ações do Irã continuam sendo um sério motivo de preocupação, em particular, em particular sua recusa em falar sobre seu programa nuclear, ou cooperar plenamente com a AIEA, e sua decisão de começar de enriquecer urânio a 20% (...).

Ele afirmou que não existe nenhum aparente uso civil para o material nuclear do Irã e que o país despreza os esforços de iniciar negociações sérias.

- O Irã tem a obrigação de assegurar à comunidade internacional de suas intenções pacíficas. Essa é a razão pela qual trabalhamos com nossos sócios do 5+1 em uma resolução de sanções no Conselho de Segurança da ONU.

O grupo 5+1 inclui os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China) e a Alemanha. Esses países vinham negociando com o Irã sobre seu programa nuclear até o ano passado, quando as conversas fracassaram.

- Até que o Irã adote ações concretas para cumprir com estas obrigações, o trabalho deve continuar.

França diz que acordo não soluciona o problema

Para a França, o acordo alcançado entre Irã, Brasil e Turquia não soluciona o problema de fundo do programa nuclear iraniano e o fato de que o Irã continua enriquecendo urânio.

O porta-voz da chancelaria francesa, Bernard Valero, disse que dificilmente o trato pode frear o exame de novas sanções contra o Irã na ONU.

- Não nos enganemos: uma solução para o assunto (do reator de pesquisa civil iraniano) TRR não solucionará em nada o problema criado pelo programa nuclear iraniano.

Para ele, a troca de urânio é apenas uma “medida de confiança, um acompanhamento”.

- O nó do problema nuclear iraniano é o prosseguimento das atividades de enriquecimento em Natanz, a construção do reator de água pesada em Arak, a ocultação da usina de Qom, as perguntas dos inspetores da AIEA que ainda não foram respondidas.

O ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, destacou ainda que o Conselho de Segurança da ONU continua trabalhando para impor sanções contra o Irã pelo programa nuclear do país.

- Progressos na resolução nas Nações Unidas bastante importantes foram alcançados nos últimos dois dias.

Alemanha diz que nada substitui acordo com AIEA

O porta-voz adjunto do governo da Alemanha, Christoph Steegmans, disse que nada pode substituir um acordo entre Teerã e AIEA.

- Continua sendo importante que Irã e AIEA cheguem a um acordo. Isto não pode ser substituído por um acordo com outros países.

Já o governo de Israel disso descretamente com relação ao acordo e afirmou que o irã se aproveitou da "inocência" e da falta de experiência do Brasil em negociações desse tipo.

Irã, Brasil e Turquia assinaram nesta segunda-feira um acordo para a troca de urânio iraniano por combustível nuclear enriquecido a 20% em território turco, com o objetivo de superar a crise provocada pela política de enriquecimento de urânio de Teerã.

O acordo foi assinado pelos ministros das Relações Exteriores dos três países na presença dos presidentes iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan.

O projeto, resultado da mediação do Brasil, foi elaborado ao fim de 18 horas de negociações.




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