terça-feira, 22 de novembro de 2011

Morre a viúva do ex-presidente francês François Mitterrand


A ex-primeira-dama francesa Danielle Mitterrand, viúva do ex-presidente François Mitterrand, morreu na madrugada desta terça-feira aos 87 anos após quatro dias hospitalizada para tratar uma anemia, confirmaram personalidades próximas a ela.
Viúva desde 1996, Danielle era conhecida por suas opiniões marcadamente esquerdistas, sua amizade assumida com o líder cubano Fidel Castro e seu envolvimento público com os trabalhos da fundação France Libertés.
Sua imagem sempre foi estreitamente associada à do socialista François Mitterrand, presidente da França entre 1981 e 1995, com quem ela se casou em 1944. Danielle apoiou o marido durante sua longa vida política, mesmo quando a imprensa revelou a existência de uma filha que o líder teve fora do casamento.
Foto: Reuters
Danielle Mitterrand morreu nesta terça-feira aos 87 anos, em Paris
Durante o tempo em que foi primeira-dama da França, não se limitou ao papel tradicional de esposa do presidente da República. Em 1986, criou a fundação France Libertés, que lhe serviu como plataforma para sua ação pró-direitos humanos e como tribuna pública.
A entidade tem como objetivo “estabelecer uma rede mundial que busque organizar uma alternativa à globalização do comércio e das finanças por uma sociedade que dê todas suas oportunidades à vida”.
Uma das primeiras reações públicas à morte de Danielle foi de Jack Lang, que foi ministro da Cultura de Mitterrand. Ele lembrou na ex-primeira-dama “uma amiga, uma mulher com quem se podia falar francamente”.
“Danielle era ao mesmo tempo uma mulher corajosa” e mostrou uma “fidelidade total com François Mitterrand”, mesmo quando expôs sua “dignidade” e sua “classe”, disse Lang em declarações à emissora France Info.
Outro político socialista conhecido por sua proximidade aos Mitterrand, o deputado Henri Emmanuelli, afirmou também à rede France Info que sentiu grande tristeza ao ficar sabendo da morte da ex-primeira-dama – segundo ele, uma mulher “muito comprometida” e “com uma personalidade muito forte”.
Danielle Mitterrand, uma primeira-dama militante e solidária com os indígenas
Após uma vida de compromisso com os direitos humanos e marcada pela militância de esquerda, na qual defendeu a voz dos povos indígenas latino-americanos, curdos e saaráuis, Danielle Mitterrand, viúva do ex-presidente francês François Mitterrand, morreu na madrugada desta terça-feira em Paris, aos 87 anos.
Antiga enfermeira da Resistência Francesa, o ativismo político dessa mulher ficou sintetizado na carinhosa recepção que em 1995 e diante das câmeras de televisão dedicou a Fidel Castro na primeira visita do líder cubano a Paris.
Aquele polêmico abraço entre dois amigos resumia o espírito livre de uma mulher que, no dia seguinte a vitória eleitoral de seu marido nas eleições presidenciais de 1981, prometeu não abandonar sua militância.
Danielle não deixou de cumprir com sua palavra. Em 1986, criou a fundação France Libertés para defender os direitos humanos e a autodeterminação das minorias étnicas e transformou a organização em uma plataforma com a qual manteve um vínculo especial com a América Latina.
Um dos primeiros projetos da France Libertés foi a construção de um hospital em El Salvador. Ao longo de sua vida, Danielle renovou constantemente sua simpatia pelo continente, defendeu a Amazônia e apoiou a causa do subcomandante Marcos, líder do Exército Zapatista de Libertação Nacional, que comandou o levante armado no estado mexicano de Chiapas, em 1994. Ela lutou também por uma solução pacífica aos conflitos armados em países como a Colômbia.
Emocionado por sua morte, o Partido Socialista lembrou “sua grande influência moral em ajudar aos desamparados por todo o mundo, e defender os direitos humanos nos lugares mais esquecidos do planeta”.
Um profundo compromisso humanitário que também recebeu a homenagem do atual presidente da França, Nicolas Sarkozy, que se referiu a Danielle como uma “mulher que não abdicou nunca de seus valores e continuou os combates que considerava justos até o limite de suas forças”.
Esse espírito livre e inconformista da viúva de Mitterrand, que indignaram frequentemente a classe política francesa, esteve a ponto de custar sua própria vida em 1992, quando, no Curdistão iraquiano, escapou de um atentado com carro-bomba.
Esse atentado ocorreu quando ainda era primeira-dama, posição que ocupou durante 14 dos 51 anos de casamento com François Mitterrand. Foi uma época na qual se manteve discreta em sua vida pessoal, mas muito ativa politicamente, demonstrando que “podia ter sua liberdade de pensamento e de expressão”, lembrou seu sobrinho e atual ministro de Cultura, Frédéric Mitterrand.
A viúva do único chefe de Estado socialista da Quinta República francesa morreu no hospital Georges Pompidou de Paris e será enterrada no próximo sábado em Cluny, no leste da França. Ela havia sido internada quatro dias antes para se tratar de uma anemia.
Foi para essa cidade que sua família se mudou durante a Segunda Guerra Mundial, depois que seu pai perdeu o cargo de diretor de um colégio ao se negar a denunciar as crianças e professores judeus da instituição ao Governo colaboracionista de Vichy (1940-1944).
É também o local onde conheceu um homem procurado pela Gestapo (polícia secreta de Adolf Hitler), conhecido como “capitão Morland”, cujo verdadeiro nome era François Miterrand, com quem esteve casada de 1944 até sua morte, em 1996.
Por sua mão chegou ao Palácio do Eliseu e junto com ele enfrentou também momentos difíceis. Em 1994, por exemplo, a imprensa revelou que o chefe de Estado tinha uma filha ilegítima, Mazarine, história que o líder manteve em segredo durante anos.
Mãe de Pascal, Jean-Christophe e Gilbert Mitterrand, autora de obras como “En toutes libertes” (1996) e “Le Livre de ma mémoire” (2007), Danielle Mitterrand (Verdun, 1924 – Paris, 2011) manteve seu enérgico estilo combativo até os instantes finais de sua vida.
Após uma primeira internação em setembro por problemas respiratórios, continuou trabalhando para comemorar em outubro o 25º aniversário da France Libertés, que tem estatuto consultivo nas Nações Unidas.

EFE
Danielle ‘chateava’ Mitterrand com Timor, “todas as noites”
Quando Mário Soares tentou sensibilizar, nos anos 1980, o seu amigo François Mitterrand para a causa da resistência timorense, este respondeu-lhe: “A minha mulher chateia-me com Timor todas as noites”.
Um sorriso luminoso, uma presença que transmitia respeito. Danielle Mitterrand, hoje falecida, com 87 anos, foi uma grande senhora da França e do Mundo.
 Gerard Fouet/AFP
Mário Soares e a mulher Maria Barroso Soares encontram-se com Francois Mitterrand e Danielle Mitterrand em Paris, em 1989, durante visita oficial
Militante de esquerda desde a juventude – aos 17 anos alistou-se na resistência francesa contra o nazismo, como enfermeira -, nunca deixou de o ser até à hora da morte, ocorrida esta madrugada, em Paris. Mesmo quando foi, durante 14 anos, primeira-dama francesa, Danielle afirmou a sua diferença militante em relação ao marido, o falecido Presidente François Mitterrand.
Direitos do Homem, antirracismo, direito à autodeterminação dos povos e, ultimamente, a luta pela água para todos… A viúva de François Mitterrand esteve em todas as frentes, mesmo quando foi um incómodo para o marido, quando este ocupou o Palácio do Eliseu de 1981 a 1995.
Lutadora por “causas perdidas”
Um dia, nos anos 1980, Mário Soares e Maria de Jesus Barroso foram jantar à Rue de Bièvre, na residência privada, no bairro número cinco de Paris, do casal Mitterrand. Mário Soares, que era amigo pessoal de François Mitterrand, contou-me depois que tinha tentado sensibilizá-lo para a causa da resistência timorense. “Pois, estou muito bem a par disso, a minha mulher fala-me nisso, chateia-me com Timor todas as noites”, respondeu-lhe Mitterrand.
Anos depois deste episódio, Danielle Mitterand deslocou-se a Díli para apoiar Timor-Leste independente e, com a sua associação France-Libertés, esteve ligada à associação de amizade França-Timor, dirigida pelo português Carlos Semedo, como ela militante de esquerda e dos Direitos do Homem.
Tal como em relação a Timor-Leste (na altura, a França mantinha relações privilegiadas com a Indonésia), Danielle Mitterrand ‘chateou’ o marido com muitas outras “causas perdidas” – dos curdos aos tibetanos, passando pelo apoio às revoltas armadas latino-americanas do fim do século passado.
“Primeira mulher” de Mitterrand
Danielle foi a “primeira mulher” de Mitterrand. A certa altura, quando, na fase final da sua longa presidência, François Mitterrand assumiu a sua segunda família, paralela, com uma outra mulher e uma filha, ela manteve-se muito digna.
Encarou a situação frontalmente no dia do funeral do marido, em conjunto com Anne Pingeot, mulher não oficial, e Mazarine Pingeot, filha de François Mitterrand e de Anne, nascida em 1974. Abraçou e beijou a “amante” e a filha “natural” no cemitério. Os dois filhos dela e de Mitterrand, Jean-Cristophe e Gibert, ambos hoje com mais de 60 anos, imitaram-na e fizeram o mesmo.
Danielle Mitterrand foi sempre uma mulher fascinante. Quando um dia lhe perguntaram se não se sentia ofuscada pelas numerosas relações amorosas extra-conjugais atribuídas ao marido, respondeu: “Nós, as mulheres, temos também os nossos segredos íntimos nesse domínio”. Foi a única vez em que Danielle falou publicamente neste delicado assunto.
“Consciência de esquerda” do marido
Conhecera Mitterrand durante a guerra da resistência antinazi e casara-se com ele ainda com 19 anos. Sempre manifestou pelo marido grande respeito e, mesmo depois da sua morte, nunca poupou nos elogios sobre a sua carreira política. Os passos divergentes da vida pessoal e política de cada um – há quem diga que ela era a “consciência de esquerda” de François – não chegaram para os afastar.
Danielle Mitterrand foi uma grande mulher francesa de excecional coerência – até o atual Presidente, Nicolas Sarkozy, que ela criticou duramente pelas ações contra os ciganos ou os imigrantes indocumentados, o sublinhou na hora da sua morte.

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