Após separação, Margaret Tyler transformou aos poucos a casa em museu.
Coleção em Londres inclui artigos até do sétimo na linha de sucessão real.

Margaret Tyler, 67 anos, na porta de casa
(Foto:Fernanda Calgaro/G1)
Na soleira, uma placa comemorativa dos 25 anos do reinado da Elizabeth 2ª, comum nos pontos turísticos da cidade, não deixa dúvidas da idolatria. Mas nada, nada mesmo, prepara o visitante para o interior da casa. São milhares de quinquilharias, pilhas de revistas, centenas de fotografias, xícaras e pratos acumulados ao longo de 30 anos pela recepcionista aposentada Margaret Tyler, de 67 anos.

Heritage House 2 (Foto: Fernanda Calgaro/G1)
Avaliado por uma empresa de seguros em 40 mil libras (o equivalente a R$ 105 mil), o acervo de 10 mil itens impressiona. Tem de tudo, de máscaras, coroas e estatuetas a pôsteres em tamanho real e até um trono de madeira. "A família real é parte da minha própria família", diz Margaret, que recebe apoio dos quatro filhos e quatro netos para alimentar o hobby.
As matrioskas (bonequinhas russas) foram
presente do filho (Foto: Fernanda Calgaro/G1)
E a sua peça favorita é justamente um quadro recebido dos filhos. A tela a óleo, cópia de uma fotografia, mostra a princesa de Gales com William e Harry ainda crianças. "Ela está deslumbrante ali, não está? Foi uma sorte muito grande tê-la conhecido quando visitou o hospital daqui da região, seis semanas antes de morrer."
Essa e outras histórias Margaret não se cansa de contar e recontar, sempre com um sorriso no rosto – ainda mais desde o anúncio do casamento entre o Príncipe William e Kate Middleton, em novembro passado. "Recebo jornalistas aqui durante o dia todo atrás de entrevistas. Mal tenho tempo de ir ao mercado", diz, trajando uma saia azul marinho, camisa branca e um blazer vermelho. O figurino patriótico é arrematado por um broche de cada lado da lapela com fitas penduradas. No centro, fotos dos noivos reais.
ColeçãoA coleção começou com um mero pratinho de vidro, do tamanho da palma da mão, com o rosto da rainha Elizabeth 2ª entalhado para marcar a sua coroação, em 1953. "Custou só £ 2,50 (o equivalente a R$ 6,50) e olha no que deu", diverte-se a aposentada, que transformou um canto da sala de jantar numa espécie de memorial da coroação. Quando começou a coleção, nos anos 80, Margaret ainda estava casada, mas, cerca de dez anos depois, acabou se separando. "Fiquei com a casa e pude fazer o que eu quis com ela."
"Comprei 12 porta-retratos iguais e recortei as fotos das revistas e coloquei aqui. Não sou boa com tricô, mas sei montar quadrinhos"
No andar térreo, quatro cômodos tomados de alto a baixo abrigam objetos divididos por seções. Logo no corredor da entrada, ficam as coisas relacionadas ao príncipe Edward, terceiro filho homem da rainha e sétimo na linha de sucessão ao trono, e à esposa, Sofia, com fotos, revistas, um pôster e uma enorme faixa de boa sorte ao casal.
Na sala de estar, há um canto para a Rainha Mãe. "Ela era tão doce. Todo mundo queria tê-la como mãe", diz a "curadora". Outro canto é terreno do Príncipe Charles e da segunda esposa, Camilla. Na mesinha de centro, rodeada de pilhas de revista de celebridades, o espaço é preenchido pelo casal-sensação do momento: William e Kate. "Comprei 12 porta-retratos iguais e recortei as fotos das revistas e coloquei aqui. Não sou boa com tricô, mas sei montar quadrinhos."
Um outro pedaço da sala é dedicado à Rainha Elizabeth, incluindo aí um trono rústico de madeira, arrematado após o fim de uma exposição. Ao lado, fica um busto do Príncipe Charles, o primeiro na linha de sucessão.

O trono localizado na sala de estar, que foi arrematado após o fim
de uma exposição, faz companhia ao busto de Charles e outros itens da coleção
(Foto: Fernanda Calgaro/G1)
Na sala de jantar, a mesa de refeição virou uma espécie de altar dedicado aos noivos William e Kate. Atrás, prateleiras forram as paredes com xícaras e outros souvenires de tamanhos variados do casamento de Charles e Diana. Em meio a tantos estímulos, uma fileira de estatuetas de porcelana se destaca pela graciosidade: são oito noivas aristocráticas com cópias fiéis dos seus vestidos de casamento.
No outro lado da sala, Margaret abriu uma concessão e destinou três prateleiras às fotos da sua própria família. Na continuação da sala de jantar, Dianas de papelão em tamanho real vigiam livros e mais livros sobre a vida da princesa. Na parede, ficam expostas numa banca de jornal revistas, todas com a Lady Di na capa.
E como se tira o pó de tudo isso? "Ah, eu prefiro eu mesma fazer, porque as pessoas não têm paciência. E eu sei exatamente o lugar de cada objeto. Não gosto que mudem de lugar. Se mudam, já vou logo voltando para o lugar certo."

Mesa dedicada aos noivos William e Kate Middleton na casa de
Margaret Tyler (Foto: Fernanda Calgaro/G1)
"Nós não sabemos muito sobre ela, não é verdade? Mas é uma moça linda, parece ser bem centrada"
Quanto a Kate ter o mesmo carisma de Diana, Margaret acha difícil, mas a considera um sopro de juventude para a família real. "Nós não sabemos muito sobre ela, não é verdade? Mas é uma moça linda, parece ser bem centrada. E também é mais velha, tem nove anos a mais do que quando a Lady Di quando se casou, então talvez não sinta tanto a pressão. Acho que o casal, por ser moderno, aproxima a realeza das gerações mais jovens."
E toda vez em que há um grande acontecimento envolvendo a realeza, a sua rotina também muda. Os três quartos extras da casa, que aluga no esquema pensão (chamado de Bed & Breakfast na Inglaterra, ou "cama e café da manhã"), normalmente ficam vazios em outras épocas do ano. Por causa do casamento, estão alugados há algum tempo para turistas estrangeiros. No dia da cerimônia, a aposentada entrará ao vivo numa TV americana, como comentarista, e não será a primeira vez. "Ainda assim, dá um frio na barriga."
Com essa agitação, engana-se quem acha que Margaret está satisfeita. Apesar de possuir praticamente todo objeto fabricado com a cara da realeza e já ter visto de perto a rainha Elizabeth 2ª em três ocasiões, além de outros aristocratas, ela tem ainda dois itens na sua lista de desejos. O primeiro é ter na sua coleção uma roupa usada pela Lady Di. "São muito caras", lamenta. O segundo é estar entre os súditos sortudos que são convidados a tomar chá com a rainha todo ano. "Aí, sim, eu poderia morrer feliz."
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