quarta-feira, 7 de abril de 2010

EUA removem termos "politicamente incorretos" de documento que norteia segurança

Assessores do presidente Barack Obama estão removendo termos religiosos como "extremismo islâmico" do documento que norteia a estratégia de segurança americana. O documento será reescrito para enfatizar que os EUA não veem as nações de maioria muçulmana por meio da lente do terrorismo, segundo altas fontes do governo americano.


Reescrever um texto tão importante é exemplo dos esforços de Obama para deixar sua marca registrada na política externa
Reescrever um texto tão importante é exemplo dos esforços de Obama para deixar sua marca registrada na política externa

Trata-se de uma guinada significativa na Estratégia Nacional de Segurança, um texto que servia de base para a princípio da guerra preventiva da Doutrina Bush e estipula que "a luta contra o radicalismo islâmico militante é o maior conflito ideológico dos primeiros anos do século 21.

As fontes falaram sob condição de anonimato já que o documento ainda está sendo reescrito, e a Casa Branca não se pronuncia sobre o caso.

Reescrever um texto tão importante é o mais recente exemplo dos esforços de Obama para deixar sua marca registrada na política externa, como a promessa de desativar armas nucleares e restringir os cenários nos quais elas podem ser usadas.

As revisões fazem parte de uma ampla iniciativa pela qual a Casa Branca quer mudar não só a maneira como os EUA se dirigem a nações de maioria islâmica, mas também os assuntos abordados nas conversas com elas, de sistemas de saúde a ciência, passando por abertura de empresas e educação.

Nova relação

Esse distanciamento da temática do terrorismo vem sendo construído há um ano, desde que Obama discursou no Cairo, Egito, prometendo um novo começo nas relações entre os EUA e o mundo muçulmano.

"Você vai a um país onde a esmagadora maioria nunca vai se tornar terrorista e diz: 'estamos construindo um hospital para que vocês não virem terroristas'. Isso não faz sentido", diz Pradeep Ramamurthy, da equipe envolvida na Estratégia Nacional de Segurança

Ramamurthy chefia o Birô de Envolvimento Global, uma equipe de quatro pessoas do Conselho de Segurança Nacional que Obama criou sem alarde, em maio, e cuja vaga missão é usar diplomacia e acenos para alcançar diversos objetivos de segurança nacional.

Desde então, a equipe não só ajudou a mudar o vocabulário da guerra ao terror como também ajustou a maneira com que os EUA investem em negócios muçulmanos, estudam o aquecimento global, apoiam pesquisas científicas e combatem a poliomielite --um mal endêmico em alguns países islâmicos.

"É melhor enxergar os EUA como o país que combate o terrorismo ou o país com o qual você quer fazer negócios?", questiona Ramamurthy.

Imagem dos EUA

Pesquisas feitas no fim de 2009 apontam para uma clara melhora da imagem dos EUA em países muçulmanos --embora a percepção continue amplamente negativa.

Partidários do governo anterior alegam que George W. Bush também acenou para os muçulmanos. O republicano trouxe o primeiro Corão à Casa Branca, celebrou o primeiro Iftar presidencial no mês sagrado de ramadã e apoiou com ênfase democracias muçulmanas como a Turquia.

Mas o governo Bush esbarrou na própria retórica. Muçulmanos o criticaram por se referir à guerra ao terror como uma "cruzada" e por chamar a invasão do Afeganistão de "Operação Justiça Infinita", palavras vistas como religiosas. Bush com frequência se referia aos inimigos dos EUA como "extremistas islâmicos" e "jihadistas radicais".

Assessores de Bush dizem que a linguagem ficou mais conciliadora no segundo mandato de Bush, mas eles admitem que as palavras foram atropeladas pela prisão de Guantánamo, pelos abusos em Abu Ghraib e pela prolongada guerra no Iraque.

A posição de Obama também supõe riscos políticos. Mesmo ordenando bombardeios a terroristas no exterior, ele se mostrou vulnerável às críticas dos republicanos contra suas estratégia de segurança, especialmente após o ataque terrorista frustrado do Natal.

O cientista político Peter Feaver, ex-assessor de Bush, é cético em relação aos acenos de Obama. "Não parece ter criado nenhum benefício estratégico no processo de paz no Oriente Médio ou em relação às ambições nucleares iranianas", diz.

A Casa Branca rejeita as críticas e insiste em que Obama viajará em junho à Indonésia, país muçulmano mais populoso, onde a temática do discurso no Cairo será revisitada.

"É o longo caminho que precisamos continuar trilhando", diz Ramamurthy.

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